quarta-feira, 15 de abril de 2009

Se eu não fosse seu pai

Parentes não se escolhe. Quantas vezes você já ouviu isso na vida? Filhos também não, aliás, em se tratando de seres humanos, pouca escolha há que se fazer, todos vem com defeito de fábrica, nenhum é perfeito. Mas vamos esquecer os laços que nos unem, afinal isso é pura formalidade, vamos pensar em termos reais. Existem dois lados nessa conversa franca e amigável, o lado A dos pais e o lado B dos filhos, então como dizia Jack: "Vamos por partes". Quando um casal se une pesam em constituir família, logo, por consequência, pensam em ter filhos e normalmente idealizam a vida dos filhos baseados em suas vidas, tirando o que houve de ruim e deixando o que foi bom e melhorando mais as coisas para os rebentos, porém como a vida segue seu curso, independente do que queiramos ou façamos, a trombada no final da curva será grande. Pais idealistas, filhos egoístas. Três etapas em relação aos filhos: 1- Tomar a decisão de tê-los, 2- Criá-los com bons princípios e 3-Deixá-los ir sem arrependimento ou medo. Quando resolvermos tê-los temos que ter consciência de que estaremos abrindo mão de nossa liberdade, divertimento, tempo e dinheiro. Liberdade adeus, pois filho é totalmente dependente até a adolescência, divertimento nem pensar, filhos não gostam do que os pais gostam e se acompanham e por que foram carregados e vão embirrados, tempo então, só se o seu relógio tiver mais de 24 horas num dia, pois vai ter que lavá-los e trazê-los quantas vezes forem necessárias para todos os lugares possíveis e imagináveis e finalmente quanto ao dinheiro trate de arrumar um saco para carregá-los e verifique se ele tem fundos. Importante dizer aqui, neste exato ponto que tudo o que você fizer para seus filhos não será mais do que sua obrigação portanto nunca haverá reconhecimento, afinal você os quis, então se virá Mané. Por que filho emburrece? Questão de ideologia? Filhos têm trauma, drama de consciência, depressão, revolta e despejam para cima de nós todas as mazelas e agruras de suas vidas enquanto que nós pais somos um sólido bloco de gelo, sem sentimentos, apegos, preocupações e culpas por não ter feito mais e melhor. Será? Na verdade o que fizemos foi o nosso melhor e melhor que isso só dois desses. Era o que sabíamos e podíamos, afinal em pé de abóbora não nasce morango. Nenhum filho imagina como foi dificil comprar aquele carrinho velho, aquele apartamento da Cohab, financiado pela CEF para ser pago em 20 anos, o custo da escola, a comida na mesa, a roupa lavada e passada, a caminha quentinha, a tranquilidade de não ter que se preocupar com as contas e poder fazê-las. Filho não sabe o que é passar noites sem dormir cuidando e resolvendo problemas, em querer mais e melhor e não ter como ganhar para isso. Pais que trabalham em 2 ou 3 empregos e que dormem 4 horas por madrugada e que enfartam de repente no auge da idade sem saber por que. Por que? Aí chega a independência da criançada. 18 anos enfim, "agora faço o que quiser da minha vida". "Só falta definir como". Como? Hora de procurar emprego, estudar e saber que é a bola da vez para começar a idealizar. A independência é frustrante. Tantas obrigações, tantos deveres, onde está a diversão,contas e dinheiro são antagónicos. Se morar junto com alguém para dividir, tem que dividir os afazeres doméstico também, aí é chato, em casa eu não fazia nada. Você vai lembrar de tudo o que você não fazia, por que agora vai ter que fazer. É a vida. E como é duro viver a vida de verdade e por sua conta. I r ao médico sozinho, ao dentista, à padaria, ao supermercado, duro hein!!! Você vai lembrar de mim nessa hora, de tanto que eu enchi suas orelhinhas de conselhos inúteis. Agora pense: "E se eu não fosse seu pai".
Qual seria sua referencia? Como seria a sua personalidade?
Você não teria brincado comigo e nem me visto como uma grande criança igual a você só que maior. Você não teria esse sorriso largo e simpático e mesmo forçando para ficar seria riria das minhas palhaçadas e dos micos que eu te fiz passar. Talvez você nem soubesse sorrir. Você não seria tão dura na queda na hora do "pega pra capar", nem choraria de emoção ao assistir um filme emocionante, nem seria tão amiga dos amigos e ao mesmo tempo frio e cínico pras sujeiras da vida.Se eu não fosse seu pai quem te daria um ombro pra chorar, quem arcaria com o ônus da solidariedade compulsiva e intuitiva, quem te cobraria sua honestidade e verdade, quem te ouviria e te daria um sermão para você crescer mais forte. Quem mais além de mim ouviria suas lamurias, seus xingamentos e suas babaquices. Quem daria a cara a tapa por você e até morreria ou mataria por você. Quem?!!!! Se eu não fosse seu pai a quem eu amaria tanto, por ser sangue do meu sangue, por ter meu DNA escrito em negrito, uma letra do meu tipo sanguíneo, ter meus traços marcantes e ter a certeza de que você vencerá seus medos e inseguranças quando se conscientizar que eu estou e sempre estarei ao seu lado e mesmo quando eu não mais estiver você saberá e sentirá que não está só, só não vou puxar seu pezinho, certo.

Nenhum comentário: