quarta-feira, 21 de julho de 2010

Tragicismo atroz ou filosofia pura

Você também acha que morrer às vezes pode até ser um premio, Uma dádiva divina? Que Deus acertou em dar-nos uma vida finita?Quem quer viver para sempre? Imagine-se tem que refazer seus circuitos de amizade de tempos em tempos, novamente e novamente. O de amores, então, que loucura seria isso. Quantas vezes você conseguiria se apaixonar, dividir, será que teria a mesma graça do que não saber o que virá amanhã, daqui a pouco ou um pouco mais pra lá? Como será o amanhã? Haverá amanhã?
Pense bem, deixar toda a preocupação com essa vida terrena, com suas rotinas, suas cobranças, seus deveres, suas intrigas. Não ter mais que precisar dormir cedo pra acordar cedo, ter que chegar no horário pra bater ponto, não dever explicação pra nenhum chefe, não ter que ir ao cinema ou sair a contra gosto só pra fazer outras pessoas felizes, não ter que usar um sapato que te aperta o pé ou aquelas roupas que mais incomodam do que enfeitam, não ter que dirigir, só voar por aí, espiritualmente livre de tudo, sem se cansar, sem ninguém pra te aporrinhar com calorias, batimentos cardíacos, barriguinha e sem ter que olhar pro relógio pra checar se vai ou não atrasar pra isso ou para aquilo ou mesmo chegar atrasado em casa e ter que ouvir uma ladainha lamuriosa de cada dia, já pensou nisso? Não ter que dar ouvidos a conversa mole pra boi dormir, não ter que dar opinião sobre coisa alguma, principalmente as que você não tem controle e nem domina direito ou se fazer respeitar pela sua que não vale nada, como a de qualquer outro, pois na verdade somos narcisistas intelectuais, também. Não ter que viver aprendendo e se aperfeiçoando pra galgar qualquer posto superior só pra se mostrar pra meia dúzia de pessoas que você mal conhece e que sequer lembrarão de você ou dos seus feitos quando você partir dessa pra melhor. Não se preocupar mais com os filhos, a esposa, o vizinho, o chato, o perseguido e a perseguida, o texto e o contexto, se vão dar aventura ou se será um marasmo total, com o cachorro que late fora de hora, pobre coitado, não pode nem latir, com o coitado do carteiro que traz as contas que você pega na portaria do prédio ou na caixa de coleta de correio no muro de sua casa e depois tem de pagar naquele dia que chamam de vencimento. Então só pra comemorar, como uma espécie de saideira, faça agora a sua lista de botas (Bucket list, nome em inglês do filme "Antes de partir", assista e chore de emoção), não por saber que eminentemente irá morrer de causas funestas e terminais, mas muito pelo contrário, de causas naturais, pelo menos é isso que eu desejo e espero.

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